quinta-feira, junho 25, 2009

A lua e o vento

Certa vez, um menino soltou palavras ao vento
Mas esse, por sua vez, invejoso
Não as fez chegar aos ouvidos da bela dama
Ela pensou que ele não a queria
A lua percebeu a maldade do vento
Então tomou uma providência
Fez o dia virar noite
Obrigou que o vento soprasse no ouvido do menino
Ela estará na rua admirada olhando para o céu
O menino foi até lá
Disse as palavras que o vento havia levado embora
No momento em que a menina o beijou
A lua saiu e o sol voltou
E o dia que virou noite voltou a ser dia

terça-feira, junho 23, 2009

Sobriedade

Sendo louco, sou sincero
Só assim digo o que quero
A quem com isso não se importa
ou acha babaquice
lhes dou minha sandice
a santa imaculada das crendices

sexta-feira, junho 19, 2009

Temporal

Às vezes não percebemos que as coisas mudaram
Nem sempre percebemos que o vento mudou
Que as ondas do mar ficaram mais fortes
O mundo muda em baixo dos nossos narizes
As cores do céu ainda não mudaram
Permanecem o cinza, o branco e o negro
O azul é de outrora
Quando ainda havia esperança
Quando morrer quero ir para o céu
Lá o tempo deve passar mais devagar
E minha alma vai ficar mais tranqüila
O problema é que não acredito nisso
Droga

quinta-feira, junho 11, 2009

Mistura

Está entranhado
É sujo
Me irrita
Saia daqui!
Não vá embora, fique!
Me interprete
Me sinalize
Me consuma
Pense comigo
Afinal, somos amigos
Um do outro
Outro de um
Só não me desmoralize
Sei que é incontrolável
Se arrisque
Minta
Puxe o gatilho
Acenda a pólvora
Caia a meus pés
Beije meu dedo
Sou seu senhor
Agora suba nas minhas costas
Se responsabilize
Mas quando se manifestar...
Não me indique
Os opostos se atraem
Minha imagem quebrou meu espelho
Os cacos vão ficar aí...
Que alguém os cole!

Que cidade é essa?

A noite é de sábado. Parece ser uma noite de sábado como outra qualquer. Vou sair e espero me divertir. Bom, mas foi uma noite de sábado qualquer, nada de especial aconteceu. Apenas algumas verificações de um repórter que por mais que conheça sua cidade sempre se espanta com algumas ciosas.
Fui deixado no centro. O relógio, parecendo prever o frio, ainda marcava 22h40. Eu tinha combinado com duas amigas, às 23h. Agora o que eu faço? Sai para andar. Derrepente espanta o frio. Depois de alguns passos, um homem já me pede um cigarro. Digo que não tenho. Porra, tenho cara de fumante por acaso? O cara estava mal vestido. Parecia ser um andarilho. Continuo andando. Passo por uma casa abandonada e vejo uma mulher baixa tentando acender sua pedra de crack. Ela estava no chão. Aquilo deveria estar frio, mas seu vício iria esquentá-la. Mais para frente, dois mendigos fumavam e conversavam. Eles estavam loucos para beber. Foi o que um falou para o outro. Sem dar muito importância, saio dalí ando até chegar na praça. Vou sentar. Melhor não, está muito frio. Caminho devagar. Pessoas estranham estão ocupando a praça. Em um lado do gramado dois gays vestidos com roupas rasgadas e com todo tipo de estampa. Estavam se beijando. Isso em uma praça de Joinville, não se vê todo dia. Ao lado deles, algumas bebidas. Brincando nos balanços, algumas pessoas difíceis de se identificar, óculos escuro para se proteger da luz da lua, que estava forte naquele momento. Eles riam muito. Outro com o cabelo vermelho. Acho que são esses os famosos “emos”. A média de idade, provavelmente, não passava dos 16 anos. Eram muitos, jogados na grama, bêbados. Juventude virada. Que merda de pensamento conservador esse meu agora. Afinal, os fígados são deles. Não me lançaram um mísero olhar. Será que sou invisível? Ou sou muito estranho para eles? Enfim, a praça era deles, eles estavam a ocupando. Alguns cigarros davam, junto com o vinho, o tom de sou adulto. Vão à merda, cresçam, pirralhos. Depois descobri que o local não era só deles. Alguns viciados também estavam instalados por ali. Do outro lado mais um me pede cigarro. Mais uma vez digo que não tenho. Ele fica gesticulando, não dou importância. No chão, encostada na parede estava uma mulher. Estava fumando. No lado dela mais um homem. Eles pareciam estar brigando. Nesse momento me pergunto o que realmente estava fazendo ali. Não importa. Um homem passa por mim e faz um gesto me oferecendo cocaína. Assustei-me, me senti fora de contexto. Neguei com educação, afinal ele também foi educado. Sigo andando e saio da praça. Vou até o lugar do show, cover do Legião Urbana.
Porra, ainda está frio pra caralho. A caminhada não adiantou. Minhas amigas chegam e entramos na casa de show. O espetáculo demora. Enfim começa. Com uma bandeira do Brasil enrolada ao corpo, o vocalista, parecido com Renato Russo, começa a cantar os clássicos da Legião. Incomodava-me um pouco o fato do lugar estar meio vazio. Queria gente, calor, empurrão. Não essa merda de calmaria. Mesmo assim estava me divertindo. O cheiro do cigarro tomava conta do lugar. Bebida saia feito água. Alguns fãs me irritavam. Que saco, precisa dançar desse jeito? Outros eram mais comedidos.
Chega a hora em que ele canta “que país é esse?”. O galera pira, endoida. Após o refrão, que é o título da música, o pessoal emendava: é a porra do Brasil! Assim iam seguindo os acordes e os gritos de desabafo do público. De alguns, isso nem era muito sincero, só acompanhavam o coro. Mas estava bonito. Mais uma vez o vocalista esticava a bandeira do Brasil. Na minha cabeça eu pensava que país é esse? Que deixa seus filhos e filhas se viciarem pelas esquinas. Discurso moralista e comum, eu sei, mas foda-se, era o que eu estava pensando. Estou indo embora. Perto da minha casa, passo por uma zona. Da rua se ouvia os gemidos e barulhos. Prostituição, um ato típico desse país. Pelo menos ali havia mais sinceridade. Todos sabem que elas estão ali para isso.